FUTEBOL – Seu Ataíde também se lembra que o futebol, para os estivadores, era tão importante quanto o trabalho. “Tínhamos um time que disputava até o Campeonato Catarinense. Se alguém era bom de bola, acabava virando estivador”, declara. Seu Ataíde chegou a ser campeão pelo Estiva, mas confessa que nunca entrou em campo. “Eu era terceiro goleiro do time e nunca houve duas substituições de goleiro”, explica.
Um dos jogos mais marcantes para Seu Ataíde foi no campeonato catarinense. À época, os dois times mais fortes do Estado eram o América, de Joinville, e o Comerciário, de Criciúma. A partida foi contra o comerciário e o Estiva estava perdendo de 2x0. Aos 40 do segundo tempo, o “Geninho” entrou no time e fez a diferença, empatando o jogo que já era considerado perdido. O time que fazia a diferença do Estiva na década de 50 contava com craques como Tuca, Renaux e Maru; Careta, Geninho e Pão; Dido, Couto, Ari, Morgado, Zico e Ieé. O time era presidido pelo Chico da Fina.
FERRY BOAT – Para seu Ataíde, uma das grandes perdas para os Estivadores foi o Ferry Boat. Ele explica que em 1967, a Caixa Beneficente da Estiva foi autorizada pelo Capitão dos Portos, Sérgio Lima Ipiranga dos Guaranis, a explorar a travessia de passageiros pelo rio Itajaí Açu. O trabalho era feito por uma lancha com capacidade para 200 pessoas, que, em agradecimento ao capitão dos portos, foi batizada de “Capitão Guaranis”.
Ocorre que o Sindicato dos Estivadores e a Caixa Beneficente dos Estivadores tinham duas diretorias diferentes e os conflitos eram constantes. Depois de cinco anos realizando o serviço, a Caixa vendeu a lancha e transferiu a autorização para a família do Joaquim “Quinca” Alves, que havia vendido apartamentos em Santos/SP e se transferido em Itajaí para operar o negócio que, mais tarde, se tornaria o Ferry Boat.
Outra lembrança de Seu Ataíde foi a primeira vez que aportou em Itajaí um navio carregando Sulfato. Foi um trabalho árduo, em que os estivadores praticamente viraram a noite, trabalhando das 19 horas até às 5 da manhã do outro dia. O trabalho era altamente nocivo e o pessoal carregava sacas de 60 quilos de sulfato, sem usar qualquer tipo de equipamento de proteção. Era difícil até de respirar no porão do navio e, quando chegou o momento de receber pelo serviço, os trabalhadores souberam que a carga foi classificada como “gênero alimentício”, cujo valor era bem mais baixo. “Foi preciso entrar com uma reclamatória. Felizmente, o Delegado do Trabalho à época, Dr. Artur Jacinto, deu ganho de causa aos estivadores e recebemos um pagamento de R$ 932,00, o que nos deixou bastante satisfeitos, pois o salário mínimo de então era de R$ 135,00 (levando em consideração a moeda atual)”.
Seu Ataíde se aposentou da Estiva em 1983, após cair no porão de um navio e quebrar os dois pés. Conseguiu se recuperar e, mesmo aposentado, voltou a trabalhar permanecendo de 1994 a 2002, quando se retirou definitivamente. Foi casado com Carolina Seára Mafra (que faleceu há sete anos), com quem teve três filhos: Isabel Cristina Mafra Teixeira, Ilselena Mafra Branco e Eduardo José Seára Mafra – que seguiu os passos do pai e também se tornou estivador. Em casa e de bem com a vida, Seu Ataíde gosta de relembrar os fatos e os personagens que, junto com ele, ajudaram a construir a história do Sindicato dos Estivadores de Itajaí. |